Um Brinde à Poesia

Um Brinde à Poesia

segunda-feira, 31 de março de 2014

Um Brinde à Poesia Abril 2014




O tempo voa para quem sonha. 

Pode parecer só uma expressão poética, mas reflete bem a 

história do Um Brinde à Poesia, lançado no dia 11 de junho de 1999, confirmando sua 

importância como evento divulgador e estimulador da poesia falada no cenário cultural de 

Niterói a 15 anos. A criação deste Movimento me foi inspirada em sonho,

dois dias antes do meu aniversário.  O evento passou a ser semanal e eu tenho total 

responsabilidade para que ele aconteça. Produzo, divulgo, coordeno e apresento.

        Cada esforço tem valido a pena. Amo  o que faço.

      A minha maior satisfação é saber que cada encontro tem promovido

     cada vez mais a poesia e seus autores, tem criado novas amizades, novos elos de criação 

    na arte e na vida e principalmente, tem estimulado aqueles que nunca falaram em 
            
         público a se encorajarem e apresentarem um poema próprio 

ou de um autor  consagrado. 

E, depois que dão o primeiro passo, que vão a primeira vez, não

 param mais e passam a frequentar os saraus. Gratificante! 

Tocar o coração das pessoas, 

sensibilizar e celebrar a vida com poesia!
    

O objetivo deste Movimento é divulgar a obra de artistas consagrados na literatura e na 
música - letrista, proporcionar espaço para novos autores e compositores,
 estimular e encorajar aqueles que nunca se apresentaram num sarau
 ou mesmo falaram num microfone em público e promover
 lançamento de livros ou cds, sem custo algum para o artista.


Com edições mensais faço a abertura apresentando poesias próprias com projeção de

 fotos e presto homenagem a nomes consagrados da literatura e da música. Logo no início 

acontece o "Momento D'versos" ou "Circulando Versos", quando o público é convidado a 

participar apresentando um poema. Três poetas e um músico convidado mostram seus 

trabalhos autorais. Há o momento do brinde em que o público é servido com vinho e

 compõem uma poesia coletivamente celebrando a vida.O evento termina com foto de todos

 no palco e sorteio de brindes dos apoios.

No mês passado criei algumas edições especiais como o Bate-Papo D'versos,

Divulgando Livros Circulando Versos e Lançando Livro.

Outros projetos estão criados e estou buscando recursos necessários
para conseguir realizá-los ainda este ano.
Entre eles a Antologia - 15 Anos do Um Brinde á Poesia,
reunindo todos os autores que participaram ao longo destes anos.


Muitas histórias foram traçadas.

 A gratificação é imensa. No dia 11 de junho o

 Um Brinde à Poesia comemorará 15 anos, em edição especial no MAC Niterói. 


Participe! Vamos celebrar a paz e a liberdade de ser.


Lucília Dowslley








Lucília Dowslley, fotojornalista e atriz, nascida em Niterói, no Rio de Janeiro. Lançou em 11 de junho de 1999, o Um Brinde à Poesia Movimento pela Paz e Liberdade de Ser, inspirado em sonho, que mensalmente promove no MAC Niterói, no Museu da República e no Solar do Jambeiro. Se apresentou no Paraguai, Nova York e Nova Jersey. Publicou dois livros: Um Brinde à Poesia (2004) e Carmim (2012). Ministra Oficinas de Interpretação e Criação de Textos e coordena o Clube de Leitura para crianças. Viver poesia, falar a poesia, ser poesia. Assim têm sido os seus dias, Militante das artes a mais de 20 anos, acredita na arte como instrumento de autoconhecimento e de conscientização para transformação da humanidade numa vida de qualidade, celebração e paz. Seja no teatro, na fotografia, na música ou literatura, este é o seu grande desafio, o seu objetivo maior e a sua luz.


NO CORAÇÃO DE DEUS

Por muito pouco
Ou por quase nada
Estão matando.
A fumaça sobe
O céu acinzenta
A voz se cala
O amigo se vai
A porta se fecha
A lua cai
O poeta chora
As palavras voam
O vento rasga
O sonhador acorda
O ator engasga
A mão se encolhe
O pássaro canta
A criança colhe
O real se desvaloriza
A dona se espanta
O poder corrompe
O pouco não satisfaz
O povo pede paz.
A mão contida
A vida sofrida
A vida não vivida
A natureza devastada
A humanidade dividida.
O rumo perdeu o freio
Emoções sem medida.
Cinza nos ares - sinal.
No olhar o grito ecoa.
Estrelas que brilham
Parecem lágrimas
Escorrendo na escuridão.
Por muito pouco
Ou por quase nada
Estamos matando
Estamos morrendo.
Ação desnorteada.
Pura defesa se salvar.
Vira-se então as costas
Cada um por si
Perde-se os sentidos
A noção dos valores.
Sinal de alerta -
Despertar nova consciência.
São tantas necessidades...
Buscar saciar todo desejo
Se satisfazer com o que se tem
Cuidar para não perder?
A que custo? Em troca de que?
Os passos ficam mais velozes
Os gestos vão se reprimindo
Os bandidos a solta
Insanidade mental
Drogam-se, matam
Matam, inclusive inocentes.
A justiça nas mãos de quem?
A violência sem limites.
Nada preenche o vazio.
E quando a solidão vem?
A família chora
O alicerce não quer ceder
As loucuras do mundo moderno.
Encontrar um novo sentido
Positivar a mente
Urgentemente.
Tentar retroceder
A novela da vida
Cenas dos próximos capítulos...
O paraíso aqui mesmo
Quem sabe?
A vida é amor
E por que não dizer Deus
Deus em cada um de nós.
Com muito pouco
Ou com quase nada
A esperança de um recomeço.
Redescobrir o caminho
Na simplicidade do ser.
Somos capazes de amar.
Um possuidor de amor
Neutraliza 100
Carregados de ódio.
Imagina 100, 1.000
1.000.000 de amorosos?
Antes de qualquer palavra
Antes de qualquer acontecimento
Antes de qualquer gesto
Manifeste amor
Então, tocará no coração
De alguém
Do universo
De Deus.








Sergio Octaviano, aos 20 anos passou a apresentar-se em casas 
noturnas e circuito universitário.
No ano de 1978 ingressou na Cooperarte criada junto à Sombras e no ano seguinte, integrou o grupo de artistas Panela de Pressão.
Em 1980 participou da "1ª Feira de Arte do CEUB" (Centro Esportivo e Universitário de Brasília) e a convite de Maurício Tapajós participou do lançamento do LP "Olha aí". No ano seguinte participou do show de Leci Brandão e Zeca do Trombone no projeto "Sete em Ponto", no Cine-Show Madureira.
No ano de 2002 ao lado de Carlos Dafé, Marko Andrade, Eliane Faria, Rubens Cardoso e Pecê Ribeiro, entre outros, participou do disco "Conexão Carioca 3". Neste CD, produzido por Euclides Amaral e apresentado pelo poeta Sergio Natureza, interpretou duas composições de sua autoria: "Estranho homem" (c/ Renato Duarte) e "Mulequim" (c/ Euclides Amaral), esta última, com acompanhamento da Banda Elos.
Em 2003, o disco "Conexão Carioca 3  Bônus" foi relançado pelo Selo Peixe Vivo, sendo adicionadas quatro faixas-bônus. No ano de 2004 atuou como diretor artístico e apresentou-se regularmente na casa de espetáculos Novo Cortiço, em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Em 2005 participou do lançamento do CD "Um pouco de mim", de Sergio Natureza, espetáculo que reuniu Sergio Natureza, Euclides Amaral, Eud Pestana, Bruno Cosentino, Wagner Guimarães, Iverson Carneiro, Ivan Wrigg, Lúcio Celso Pinheiro e Eduardo Ribeiro na Casa de Cultura de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
Em 2006 foi uma das atrações do festival cultural "IV Semana Cultural de Santa Tereza". Neste mesmo ano começou temporada de shows e apresentações no Bar Santa Arte, em Santa Tereza, centro do Rio de Janeiro, onde ficou até o ano de 2008.
Nos anos de 2008 e 2009 fez temporada do show "Elos" no Casarão Cultural Terra Brasilis Hostel, em Santa Teresa.
Em 2009 transferiu-se para a cidade de São João Del Rey, em Minas Gerais, onde participou do projeto "Zona da Música", evento de revitalização do Corredor Cultural da Rua da Cachaça, na cidade de São João Del Rey. A partir desse mesmo ano passou a integrar, como violonista, a Orquestra Popular Livre (OPL) de São João Del Rey.
No ano de 2011, integrando, como violonista, a Orquestra Popular Livre, apresentou-se em palco montado na Avenida Tancredo Neves, em São João Del Rey, juntamente a Amanda Couto (voz), Mariza Mateiro (flauta), Rodrigo Godói (saxofone), Guilherme Neto (saxofone), Cleber Ribeiro (trombone), Carolina Neves (violino), Fernanda Souza (violino), Henrique Cirilo (violino), Helber Monteiro (violino), Rafael Ribeiro (violino), Guilherme Faria (bateria) e João de Oliveira (violão).
No ano de 2012, ao lado de Elza Maria, Edir Silva, Marko Andrade, Pecê Ribeiro, Namay Mendes, Sidney Mattos, Heloísa Helena, Renato Piau, Victor Biglione, Reppolho, Rubens Cardoso, Reizilan, Lúcio Sherman, Carlos Dafé, Anna Pessoa, Martha Loureiro e Cláudio Latini, participou do CD "Quintal Brasil - Poemas, letras & Convidados", do poeta e letrista Euclides Amaral, no qual interpretou a faixa "Mulequim", parceria de ambos.
Bibliografia Crítica
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira - Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006. AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010.AMARAL, Euclides. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB. 2ª ed. Esteio Editora, 2011.AMARAL, Euclides. Poesia Resumida - Poemas & Letras (Antologia Poética). Rio de Janeiro: Edição Casa 10 Comunicação, 2013. REPPOLHO. Dicionário Ilustrado de Ritmos & Instrumentos de Percussão. Rio de Janeiro: GJS Editora, 2012. 2ª ed. Idem, 
2013. Discografia
(2012) Quintal Brasil - Poemas, Letras & Convidados (Participação) • Selo Ipê Mundi Records/Noruega • CD
(2003) Conexão carioca 3 Bônus • Selo Peixe Vivo • CD
(2002) Conexão carioca 3 • Selo BigVal Produções • CD


ELOS

Sergio Octaviano e
 Antônio Fernando Madanêlo

Amigos são reencontros
como o beijo a flor
não são versos prontos
alquimía . . .
Até o tempo espera
e para e atento
vem ouve observa
dá saudade de passar . . .
Cenas risos
memória vida tão leve
amigos revendo
relendo história
Breve nunca irá terminar
Não são meros encontros
são antigos elos
hoje verdes azuis amarelos
brancos de amor
de tanto se beijar . . .


                  POETAS CONVIDADOS -  DIVULGANDO LIVRO






 Patrícia Porto,    possui graduação em Letras (Literaturas) pela Universidade Federal Fluminense (1996), especialização em Alfabetização (2001), mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2004), em Cotidiano Escolar, e Doutorado em Políticas Públicas, Movimentos Instituintes e Educação pela Universidade Federal Fluminense (2009). Tem experiência na área de Letras e Educação, com ênfase em Alfabetização e Letramento, Literatura e Literatura-infantil, Didática, Estágio Supervisionado e Prática de Ensino. Publicou o livro: Narrativas Memorialísticas: Por uma Arte Docente na Escolarização da Literatura (CRV, 2009). Professora Titular na Uniabeu.   Poeta, contista e  cronista , atualmente vem desenvolvendo estudos sobre a Geografia dos Mitos das Narrativas Brasileiras através do diálogo entre a Literatura e a Cultura Popular.










 O trem das coisas
Patrícia Porto

A gente perde o ônibus,
os óculos,
o trem das coisas.
Não o amor.
O amor se vai,
se es vai,
des via,
        O coração é que abisma.



TODA MAÇÃ SERÁ COMIDA


A mulher que sou é um bicho tolo,
ama sem vícios,
sem recompensas,
sem garantias
ou avisos prévios.
A mulher, que eu sou - é um bicho tonto,
é um bicho doido.
Perdoai.



AMOR DEMAIS MISTÉRIOS...


o Misterioso do amar que leva esse poema é para intentos.
As náuseas da mulher que chora o intenso desse parto,
eu as partilho, porque partilho do tempo a necessidade de escorrer!
Dê-me ampulhetas, mãos pra segurar areia...
Entre meus dedos finos, meu caminho de estrelas diz:
Eu te quero o muito desse verso...
Em dias de saudades
eu sonho é contigo uma nova linguagem.
Que sonho é esse, meu amigo?

Divide o pão e o sol comigo.
O misterioso da paixão que queira
me sopra o ouvido... Um sopro bom do teu sensível.
Desfaz esse teu medo de abismo.
Tem tanta brisa e tanto espaço aqui nesse quarto de hora,
descansa no meu tempo escorrido o Amor e seus mistérios tantos.


BICHO DO MATO

Vó me chama, eu ouço...
Quero voltar pra esse dentro,
quero voltar pro teu mundo,
quero meu, teu colo sereno.
O mundo é tão feio daqui, é o demo!,
o mundo da cidade grande é grande no apedreja.
Eu com essa cara de fraca, com esse jeito de chute,
com essa roupa de chita, esses pés de chão sem sossego,
minha alma é tão a nordeste de tudo.
Eu que só fiz chorar desde que me vi sentada nessa fabricação de gente,
já inundei dois sertões, dois rios, dois lagos e um caminho.
E até aprendi essa língua, encolhi  meu sotaque,
vesti fantasia de minha mais alta miséria!
Mas não sou ninguém desses,  deles sou o só do invisível,
o pó da mesa,  o pó do miolo que cai, o que se varre.
Sem luz nem vela,  agarrei-me ao pé de minha santa,
pedi tanto a São Benedito, fiz tanta prece,
tanta promessa de juntar meu pé de meia.
Mas a cidade grande te sacode até moer,
enfraquece os ossos, te bate na cara e violenta: “Cai, peste!”
É um sem saída, é um sei, não sei, não vejo por onde se abre mais a porta, portinhola,
alçapões, e os desvios.
Parece até que perdi a hora de voltar, minha mãe.
Já nem sei mais se de onde sou sei onde fico.
Sou Bicho do Mato. Do Mato! O mato que me come e dorme.
Eu assobio de medo, mas vocifero tinhosa, esse brocado é de destino.


POETISAS

Todo poema um agudo dentro,
um  fosso,
a ferida aberta trágica,
uma flor arrancada dos espinhos.
A face de um Cristo emoldurada,
um desejo de fé,
uma saudade dobrada,
uma teia suspensa com uma aranha,
uma aranha pendurada, perdurada
a aranha a espera de ser alvejada
por mãos imensas.
Não mate a aranha, requer a escrita.
Não desvulcanize a aranha em seu devagar
exercício de existência.
Onde a morte a liberta do tapa da vida,
ela constrói uma nova gravidade.
E cai, teia, feia, forte, elástica, corcunda.
E é poema, um grave som de felicidade.
Feito.











DEMÔNIOS E COLIBRIS
Este livro é brotação do poeta bruxo, alquimista, colecionador, inquieto, seresteiro, solidário, sangrado, assim, assim o retrato de Naldo Velho, através dos versos que escancarou a partir de 2005. Não há dúvida, ele é o poeta das topadas e tropeços e dos trancos e barrancos, do afeto. Pelo cantar triste e terno, é ele a “pessoa assemelhada a pássaro”, dessa forma deve esboçar o autorretrato.
Aqui, asas e asas, que o poeta libera demônios, sim, mas o passaredo: crianças, colibris, beija-flores, anjos, Deus e seus santos, a mãe, a mulher amada, o próprio poeta, e encontram ruas, janelas e almas. E se por dentro há versos rascantes, Naldo sabe do milagre do vinho branco na liturgia da sua palavra. Rosário de palavras: densas, estranhas, e as de dissipar tempestades, outras de curar feridas, aquelas que sorriem quando criam versos. Palavra da libertação! ele bendiz.
Sem-vergonha do ofício, o poeta se dói, e doa. De voo em voo. Naldo Velho sabe da beleza em movimento dessas asas que todo artista guarda e preza, inda lustra quando o tempo da entrega, pelas estações... Assim este livro marcado de natureza. Nele, se dá conta que outonos primaveras, ventos luas, vivem enraizados nas gentes, daí o Poema, poemas, recém-nascidos.
Após este voo intenso, nos versos de Naldo Velho transparece, talvez, um desejo de renascer. Em sua boca, outra brotação de Poesia feito ramo bem verde? E se há de ser assim, na próxima estação a gente se encontra de novo. O sinal pode estar no infinito de Homero Homem – “De terra e ar é feita a casa. Use seus pés. Conserve as asas.”

Beatriz Escórcio Chacon

escritora e poeta


ASAS QUE TENHO POR DENTRO
 É mais que um convite à leitura, é um convite à escuta. O escritor e poeta Naldo Velho escreve com primor e num contínuo e progressivo exercício semântico. Sua lavra cumpre o propósito da poesia, que é o de revelar novas significâncias aos entes e as coisas do mundo. O escritor escreve como quem fala e, em sua escrita, as palavras têm a fluidez de uma fala que chama o leitor para a escuta do texto. O poeta lavra a palavra de uma forma livre e libertadora. O seu texto, livre das amarras das rimas e despojado das convenções da forma, é arquitetado com o propósito de dar corpo e movimento às palavras. A dualidade presente em seu verbo veste as palavras de serenidade e inquietude. Naldo Velho sonha o real e realiza o irreal em convidativas construções semânticas que remetem o leitor a um mundo desvelado por sua poesia quando esta fala ao seu ouvido: “A palavra sobre a pedra fria mastigava a letra morta. A sombra que trazia lamentava a própria sorte: palavra tardia esta tal poesia”.
No ASAS QUE TENHO POR DENTRO, o autor sonha uma realidade e vive um sonho, um mundo ideal construído, liturgicamente, com a palavra. É um convite ao leitor, para ler, compreender e viver esse ideal de existir cuja possibilidade única é a escuta da liturgia da sua palavra poética. Assim o poeta convida: “Por isto cultivo palavras poemas, toda a vez que colho uma, parece que as coisas se ajeitam, fica mais fácil sobreviver.”
Boa leitura e boa escuta!

Wanda Monteiro


Naldo Velho
Poeta, músico (compositor) e artista plástico, com três livros publicados:
 MANIA DE COLECIONADOR
 A DANÇA DO TEMPO
  ASAS QUE TENHO POR DENTRO.





 DUALIDADE

Um olho se emociona e chora,
o outro, árido, observa.

Uma parte de mim anoitece,
outra parte desperta e amanhece.

Meu lado direito questiona,
o esquerdo se aquieta e ora.

A boca mastiga palavras e sonhos,
o estômago macera sentimentos estranhos.

Meu coração, aflito, ainda ama,
mas o cérebro afirma que é tarde,
pois só me restaram uns poucos poemas!

Dois afluentes que se devoram
num mesmo rio que implora:
tudo o que ele quer é virar mar.



SONHO
NALDOVELHO

Sonho aprisionado é água parada,
com o tempo cria limo, traz doença,
apodrece dentro da gente.
Libertado, vira rio,
espalha sementes,
transforma existências...

Tem a pretensão de ser mar!



MORRER DE AMOR PELA ÚLTIMA VEZ


E se eu pudesse quebrar as vidraças,
estilhaçar meus espelhos,
expulsar do quarto as traças,
jogar fora os relógios,
rasgar todos os poemas,
exorcizar meus fantasmas,
deixar de sentir saudade,
morrer de amor pela última vez?

E se eu pudesse falar um monte de bobagens,
dar gargalhadas indecentes,
beber de novo tonéis de aguardente,
fumar um baseado inteiro,
cometer mais um caminhão de heresias,
pintar quadros ao invés de escrever poesias,
andar pelado pelas ruas da cidade,
morrer de amor na mais tenra idade?

E se eu pudesse ignorar minhas feridas,
sorrir a cada ofensa recebida,
descobrir onde mora a esperança,
voltar a ser uma ingênua criança,
tirar você para mais uma dança,
ajoelhar-me aos pés da Virgem Maria,
confessar os meus pecados,
cometê-los todos de novo?

E se eu pudesse morrer de amor pela última vez?
E se isto me acontecesse na mais tenra idade?
E se eu pudesse pedir perdão a você?




MEU POEMA É PEDRA


A minha água é pouca
e contida pelas minhas reminiscências,
represada pelos quereres de um tempo
onde chorar eu não podia.
O tempo passou,
aquelas pessoas já se foram,
mas as marcas ficaram.
Desaguar é um luxo
do qual eu não poderia usufruir,
até porque não saberia como!

Restaram-me as palavras,
e eu choro através delas,
só assim consigo amolecer um pouco
meu coração emparedado
nas dores do meu passado,
só assim consigo diminuir a distância
que existe entre o poeta e o mundo,
entre o homem e as pessoas.
Só assim consigo quebrar o silêncio
e desencravar do meu umbigo
angústias e emoções
que eu não aprendi a demonstrar.

Meu poema é pedra mergulhada
num braço de rio
que nunca chegará a ser mar.



PEQUENA HISTÓRIA DE AMOR


Todos os dias, manhã bem cedo,
ela se empoleirava na janela,
louvava o canto dos pássaros
e agradecia a vida que Deus lhe deu.

Já faz bem uma semana,
parapeito entristecido
lamenta janela fechada,
não sabe dizer o que aconteceu.

Mas um amigo me disse
que de tão apaixonada que estava,
ela de repente apassarinhou
e amasiada com um canário
vive hoje a vida que sempre sonhou.

Foi louva-a-deus quem falou!










A PALAVRA TINTA

                           Jamais me amarro
                           à palavra corda.
                           A palavra, quando corda,
                           não arrebenta no ante-verso
                           do poema escrito.

                           Mas se antítese,
                           barbante frágil,
                           a palavra não resiste
                           aos sobressaltos
                           do poema áspero.

                           No céu das palavras,
                           a palavra linha, a palavra pipa;
                           e um cerol mal escrito
                           e cheio de si,
                           a conspurcar-lhe as cores.

                           Só a palavra forte,
                           feita de vento e sol,
                           sobrevive à brutalidade dos desejos
                           e ao silêncio
                           exasperante da morte.

                           A palavra só é matéria
                           quando tinta.

                          
CANÇÃO DA NUVEM QUE PASSA



 A nuvem que passa,
não existe
entre o cérebro
e a certeza.

É dor por nada,
solidão superlativa,
entre a sarjeta
e o castelo de cartas.

É porrada certa,
arroxeando a alma,
entre o nexo
e o incomunicável.

Não são infinitos
os gritos da dor,
mas intercalam-se
até o infinito.

E entre essa finitude
e a porta, que não se abre,
resta uma fresta
chamada vida inteira


ALVORADA

A água que cai
na terra,
molha a madrugada.

A chuva encharca a rua.
Passarinhos sorriem,
nos galhos, nas pirambeiras.

O amor dorme,
sem vestes e sem pudor,
sob lençóis desconsolados.

Macacos mordem frutas
e pulam pelos pés de pau,
galhofando com os medos dos homens.

Relâmpagos e trovões
acordam os ventos,
pro dia que nasce.

A noite morre,
lenta, sem pressa;
o Sol rompe as nuvens.


 O SOLDADO E O SONHO
a Tanussi Cardoso


Nada existe
entre o poeta e a palavra,
que não seja
denso corredor de sonhos.

A vida, aqui fora,
clama pela falta
da ternura desnecessária,
que assola os poetas.

É pra se crer,
mesmo sem ver,
que o deus dos sonhos
morreu afogado?

À primeira noite
da crise do sonho,
não lhe foi permitido ser deus;
morreu soldado.

O poeta e o soldado,
munidos de seus sonhos
e espadas,
lancetaram a escuridão.

E o corredor de palavras
iluminou-se feericamente,
inundado por vagalumes
e menestréis em casacas.

Um casal de rouxinóis
casou-se entre padres e pastores,
e fez-se a festa
e o regalo das flores.
               
          
AUTORRETRATO

 Parto a vida em duas.
   Uma parte, de infância,
                                                 
algazarra de choro
    de ralho de pai e mãe,
peões mal rodados
  e pelejas perdidas.

A outra parte
           é a gente grande que sou.
                                                 
              Algazarra de filhos e netos,
 choro de poemas
mal escritos
        e o tempo que passou.

           Entre essas duas partes,
             minha identidade de poeta.


                                                                                                                         LIVRO DE ESTREIA

Poesia para reordenar o caos


Marcia Mendes lança “Permanência” pela editora Mar de Letras, sendo apresentada pelos acadêmicos Pedro Lyra (organizador dos textos) e Godofredo de Oliveira Neto, com prefácio de Thereza Christina Rocque da Motta.
A poeta Marcia Mendes lança  “Permanência” pela editora Mar de Letras, no próximo dia 8 de abril, no Espaço Itaú de Cinema, na Blooks Livraria, a partir das 19h. O livro é dividido em cinco partes. São abordados temas como amor, universo pessoal/feminino, o dia a dia insatisfatório, dramas sociais e existenciais e, por fim, alguns aspectos do fazer poético.
Como apontou o escritor Godofredo de Oliveira Neto, "Em Permanência, Marcia Mendes reordena - para o leitor subjugado pela forte emoção provocada pela transcendência e sublimidade dos seus versos - o caos pelo gesto artístico e pela magia das estrofes." Para Pedro Lyra, Marcia Mendes não apenas intitula mas também abre o livro com o termo que pode sintetizar tudo que se exige de um poema, de uma obra de arte: a permanência. Pois se a obra não permanece, o autor não sobrevive.
 Delmo Fonseca, da Mar de Letras, diz: “Como editor, vislumbro um acolhimento especial por parte de quem realmente valoriza o ato poético, pois num tempo em que o que prevalece é o efêmero, lidar com um livro que chega para permanecer produz sempre uma boa expectativa.”
 Além da Blooks Livraria, “Permanência” poderá ser encontrado nas principais livrarias como Cultura, Travessa e Saraiva. E estará à venda também no site da Mar de Letras:










A poesia lida e não sentida se esvai. Torna-se palavras ao vento que se perdem no tempo. Mas a poesia que nos afeta, nos atravessa, esta sim, permanece. A editora Mar de Letras tem a satisfação de apresentar PERMANÊNCIA, de Marcia Mendes. Uma poética bem estruturada e recomendada pelos acadêmicos Pedro Lyra (organizador dos textos) e Godofredo de Oliveira Neto, com prefácio de Thereza Christina Rocque da Motta.

Delmo Fonseca 
Editor
(Editora Mar de Letras)



A EXIGÊNCIA RADICAL DA ARTE
(Contracapa de “Permanência”, de Márcia Mendes.
Rio de Janeiro, Ed. Mar de Letras, 2014.)
PEDRO LYRA

Em plena faixa de maturidade, Márcia Mendes estreia sem as indefinições da adolescência, tão comuns nas estréias muito jovens.
Psicanalista, em posse de uma visão do ser e do mundo já consolidada, ela não apenas intitula mas também abre o livro com o termo que pode sintetizar tudo que se exige de um poema, de uma obra de arte: a permanência. Pois se a obra não permanece, o autor não sobrevive. E a arte que conta é a que permanece por toda a eternidade – bem ao contrário do que infelizmente vemos hoje em tanta profusão, com a arte desfigurada numa cultura massiva, submetida às imposturas do consumo, sobretudo por obra da televisão, que continua ostentando seu medo à poesia.
Nas 5 partes do livro, subintituladas com expressivos sintagmas extraídos de versos das peças de abertura, ela reúne poemas que, numa incisiva linguagem, abordam temas fundamentais não apenas do nosso tempo: o amor, em “I) No Caminho”; o universo pessoal/feminino, em “II) Meu Risco”; o dia-a-dia insatisfatório, em “III) Vácuo da Vida”; dramas sociais e existenciais em “IV) Na Curva do Tempo”; e, como em todo poeta consciente do seu ofício, alguns aspectos do fazer poético, em “V) Urgência”.
O leitor consciente se encontrará em muitas passagens deste livro, 
para se ler com olhar crítico.
E permanecer.



PERMANÊNCIA
Godofredo de Oliveira Neto é escritor, poeta, doutor em Letras (UFRJ), integrante de diversos grupos de pesquisa nacionais e internacionais, professor UFRJ.



Ao consorciar a beleza da arte poética a elevada mensagem de paz, como no poema “ PERDIDOS”, que abre esta coletânea, Marcia Mendes envolve o leitor nos mistérios cavernosos do universo e seu eu-lírico, ao “ se deixar beijar pelas palavras”, desbasta veredas por onde se embrenham os mais finos versos. Entre o inconsciente e as sugestões do pensamento, a autora busca a síntese através da linguagem. Imagens primordiais, sedimentos mnésicos precedendo ao pensamento racional, como um “sopro da natureza”, do poema FEMININO, vêem o seu invólucro rasgado , de onde surgem, sempre desse casulo desfeito, a borboleta amarela (no poema PROVIDÊNCIAS), o anjo que se ocultava nos “ vãos dentro de mim”, do poema ONDE MEU ANJO MORA, o novo sujeito “ despido da couraça do passado”, em FARTA”, o eu surgido do “ roupão bordado” (PERDIDOS) ou a serpente que deixou “ a pele sobre os galhos do tamarineiro” também desse último e emblemático poema. Ressalte-se, por oportuno, que junto com a pele ficou a peçonha. O leitor agradece e, vassalo da arte, curva-se purificado.
A mediação operada pelo sentimento amoroso vem explicitada ao longo de toda a obra, particularmente no excepcional e belíssimo poema ANJO NEGRO. Marcia Mendes reordena - para o leitor subjugado pela forte emoção provocada pela transcendência e sublimidade dos seus versos - o caos pelo gesto artístico e pela magia das estrofes. Baseados em apurada técnica e notável sensibilidade, os poemas da autora evocam a noção pura do objeto, inclusive do objeto arte poética, tal exposto em SENTIDO- “ Escrevo, sem saber o real sentido da escrita”. Não passa despercebida do leitor a freqüente exaltação à mulher, desde, por exemplo, o poema AMIGA, delicadeza e pureza em versos dedicados “ à amiga-irmã”, ou a densa e percuciente MULHER CIGANA, poema dedicado à 
“ avó Marina e todo o povo cigano”.
Com domínio absoluto da realidade fônica e gráfica das palavras, a poeta oferece ao leitor, tal falava Baudelaire, um vasto pórtico que o sol marinho toca com mil fogos. Enfeixado por cinco capítulos, como cinco cenas - PÓRTICO, MEU RISCO, VÁCUO DA VIDA, NA CURVA DO TEMPO e URGÊNCIA, o livro PERMANÊNCIA se firma desde já como marca vigorosa dentro do universo poético brasileiro.


PREFÁCIO
Thereza Christina Rocque da Motta
Poeta, editora e tradutora. 
Membro da Academia Brasileira de Poesia e do Pen Clube do Brasil.


Terão os homens amado todas as mulheres até que a poesia tenha fim. Ela nasceu para dizer o amor e do amor ser o mensageiro, e o companheiro de todas as horas. A poesia é o alimento do coração que ama. Nada mais pode ser dito por suas palavras, senão que o amor existe e perdura, por toda a eternidade.

O poeta é seu instrumento e por ele os poemas nascem. E os que os leem sentem que a vida se divide em dois momentos: antes e depois da leitura. O poema que não provocar uma cisão entre esses dois instantes, não é um bom poema, pois o poema só existe se for definitivo.

A emoção do poema não está nas palavras, mas no sentimento que elas provocam. A lapidação do poema começa nos fatos, os atos corriqueiros do dia a dia, aqueles que fazemos mecanicamente, sem pensar. Mas o poema se constrói, justamente na silenciosa urdidura dos dias, e brota, sem avisar, quando está pronto.

O poema corta com suas palavras precisas, o que deve ser dito agora e para sempre. Para sempre o poema trará a emoção de quando foi feito. Se isso não acontecer, não é um bom poema. A emoção original continua no poema muito tempo depois que ele foi escrito. E retorna toda vez que é lido.

Marcia Mendes procura a poesia do seu dia a dia. E ela lhe fala através dos gestos conhecidos de toda uma vida. A vida transborda em seus poemas, excessos de si mesma, que travam uma lenta peregrinação até nossos ouvidos.

O que Marcia procura, ela encontra. O que ela sente, ela diz. O que ela pensa, sofre, chora, espera, ama, ela escreve. E através dessa escrita, ela descreve o universo ao qual pertence, de modo inalienável.

Sua extrema consciência de si e do outro, sua candura, sua visão humaníssima estão presentes nos poemas deste "Permanência", pois é a permanência que os poemas buscam. Ela não sabe o que está fazendo o tempo todo, ninguém sabe, mas ela busca, como todos buscam entender, descobrir, desvendar, revelar naquilo que escrevem.

O poeta nunca sabe quando escreverá seu próximo poema, mas ele sempre tem que ser definitivo, como se fosse o último, como se dividisse o tempo em antes e depois dele, por ser inesquecível.
Ninguém é o mesmo depois de ler um poema como esse. Nele está a fórmula da eternidade e da permanência.





PERMANÊNCIA
                              Para minha avó

Minha avó
Gostava de crisântemos na janela.
Flor da Nobreza.
Não eram bonitos, nem feios,
Mas aguentavam aquele calor suburbano.
Um dia, pensando no tempo
Ela acordou rica de tristeza,
Pegou um crisântemo amarelo,
Botou numa taça de vinho
E foi viver mais.
Todo mundo quer permanência.


BRAILLE 


O tempo,
Ou trança ou esgota,
Como o destino
Que se entrança
E casula no silêncio tímido
De mansa sintonia.

Íntima luz que ondeja
No sopro do querer.

Insinua-se a trama,
Ponto a ponto,
No vão da palavra.

Dedos espalmados
No sibilar dos dias
Deslizam as curvas,
Antes que seja tarde.

Sob o olhar de mãos
sensíveis,
O bom poema
Pode ser lido em braile. 



FEMININO
 

Dias femininos,
Hormônios efervescentes,
Mentes evanescentes.
Chorar só, é pouco.
Dor, gemidos,
Bolsa quente sobre o ventre,
Sangue, sangue, sangue...

Marte,
Impulsivo, vigoroso, assertivo.
Presença masculina,
Nem álibi, nem cúmplice,
Confundido.
Próximo, carinho suficiente,
Fala pouca.
Sem errância.

Tempo de transmutação.
Carência brutal
Atravessa o corpo
E atinge a alma.

Não é só o corpo da mulher que sangra.
A alma sangra todas as amofinações,
Todas as desilusões,
Frustrações e medos.

Nesses dias de nossas luas,
Deixamos Deus de lado
E viramos todas Liliths.
Fase oculta da Lua,
Magas do encantamento,
Loucura e fragilidade.

Sopro da natureza,
Retornamos Evas,
Enlaçadas na delicadeza.
Purificadas artérias de Vênus,
Belas e amantes,
Sagrada sensualidade.

Velas içadas ao vento,
O masculino navega
Nas ondas de seus desejos.
Sagrado e profano
Desfrute da carne e do espírito.

Complexidade, beleza e emoção,
A face feminina de Deus
Só à mulher é dado conhecer. 


MULHER 
 

No meio do canteiro das azaléias
Ouvi Maria: "estou suja".
Rosto crispado de dor,
Carregava um saco quente.
Descobri que mulher sangra,
Não sou inocente.

Tive medo de crescer.
A vida exige sangue,
dor e quentura no ventre.
Aspiro coisas melhores.
Nasci alma humana de mar
Com pensamentos revoltos
E marés que mudam conforme a Lua.

Cresci e sangrei,
Sem dor.
Se tenho o poder de gerar filhos
E preservar a humanidade,
A ela me subordino,
Por minha própria condição
Que me marca o corpo.
Maternidade é compromisso.

Bendigo meus peitos,
Meu corpo roliço, meu ventre.
Bendigo a mulher em mim.
Se a Mãe do Universo vive no vazio,
Serpenteio o vácuo
Com alguma competência.
Meus pilares me sustentam.

Dá noticia de mim,
A efêmera consciência feminina.
Cheia de incompletudes...
Nada é completo.

O grito da Maria no canteiro das Azaléias
É o ressoar de todas nós,
Flores que em silêncio,
Sangram.
Construí um céu no canto da alma
Para lá vôo com as asas de cisne.
Aprendi com as rugas a ser mulher
E a serenar meu pranto. 



LAGO DO DESEJO


Distancio-me. 
Coloco meu olhar no teu.
Com a sensação de ver-te
(Com meus olhos)

Vejo-me
(Em teus olhos)

E amo-te, comovida,
Mesmo que morta.

Como aquelas folhas
Caídas naquele outono
vivo em nossas memórias.
Quando o amor é sonho,
Sonhamos confundidos.

Foi para ti
Que, à moda antiga,
Me despi de roupas e malhas,
De corpo e de alma,
De nomes e títulos.

E me falaste frases poucas,
Loucas e santas...
E me tomastes em teus braços,
Eu, imerecida e meu cansaço,
Logo, voluntariamente, abandonado.

Era assim lago do desejo,
Até a morte do dia.
Quando a paisagem mostrava
A revoada dos pássaros
No céu avermelhado.

E o sonho-encantamento
Risonho, sentido, gozado,
Mantinha-se na noite
Como a lua no céu,
Serena e muda,
Consciente da ilusão
De amar-te. 










Luiz Otávio Oliani, nasceu no Rio de Janeiro. É graduado em Letras e Direito. Como poeta, está em 70 livros coletivos e 400 publicações entre jornais, revistas e alternativos. Recebeu 65 prêmios. Atuou na Revista Literária Sociedade dos Poetas Novos, SPN, de 2000 a 2003, tendo entrevistado grandes nomes da literatura brasileira. Participou do CD Poemas musicados por Maury Sant´Ana, volume 1 (2008). Tem poemas publicados e vertidos para o inglês, francês, italiano e espanhol, além de textos ilustrados em projetos ligados às artes plásticas. Em 2011, foi citado como poeta contemporâneo por Carlos Nejar no livro “História da literatura brasileira: da Carta de Caminha aos contemporâneos”, SP, Leya e em “33 motivos para um crítico amar a poesia hoje”, obra de Igor Fagundes, RJ, Multifoco. Recebeu Moção de Louvor e Reconhecimento da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (2011); o Troféu Honra ao Mérito do Clube em Revista, como Poeta destaque de 2012, na Rádio Bandeirantes, Rio, AM, 1360 (2013), entre outros. Publicou quatro livros de poesia: "Fora de órbita", 2007; "Espiral", 2009, "A eternidade dos dias", 2012 e “Luiz Otávio Oliani entre-textos”, 2013.



O livro “Luiz Otávio Oliani entre-textos”, Porto Alegre, Vidráguas, 2013, reúne 41 diálogos poéticos da obra de Luiz Otávio Oliani com os poetas:  Adriano Nunes, Alexandra Vieira de Almeida, Aluizio Rezende, André Luiz Pinto, Angela Maria Carrocino, Antonio Carlos Secchin, Astrid Cabral, Augusto Sérgio Bastos, Carmen Moreno, Carmen Silvia Presotto, Cláudia Gonçalves, Claudia Manzolillo, Dalmo Saraiva, Edison Veoca, Elaine Pauvolid, Ferreira Gullar, Helena Ortiz, Igor Fagundes, Jiddu Saldanha,  Joilson Pinheiro, Jorge Ventura, Léa Madureira Lima,Leda Miranda Hühne, Luiz Claudio Abud,  Marcelo Girard,  Márcio Catunda, Mozart Carvalho, Neudemar Sant´Anna,  Olga Savary, Pedro Du Bois,  Pedro Lyra, Raquel Naveira, Ricardo Alfaya, Rosane Carneiro, Rosane Ramos, Rogério Salgado, Selmo Vasconcellos, Sérgio Gerônimo,  Tanussi Cardoso,  Teresa Drummond e Victor Colonna. A obra tem orelha do professor universitário, crítico, ensaísta e poeta Pedro Lyra.



·         ASSOCIAÇÕES TEMÁTICAS
·                     Pedro Lyra
·          
            O poeta Luiz Otávio Oliani teve uma idéia original: procurar poemas de outros poetas e associá-los a poemas de seus 3 livros já publicados. São 41 poetas brasileiros contemporâneos, nos quais ele encontrou alguma afinidade temática.
            Assim ele “montou” esta coletânea de múltiplos diálogos textuais. Mais que uma homenagem, é um reverência aos poetas, não parodiados, mas hipertextualizados.
            Numa breve nota introdutória, ele revela a origem e o desenvolvimento deste projeto: no ciberespaço do Facebook. A postagem de um poema gerava um comentário, o comentário gerava outro poema – e o livro ia crescendo.
            Importante aqui é a negação da simplória “profecia” de que o e-book vai extinguir o livro de papel. O que temos é, ao contrário da morte de um meio, o nascimento de outro: o poeta pré-internético transitou do livro para o ciberespaço, o poeta internético já está transitando do ciberespaço para o livro.
            Oliani executa o processo inverso da epígrafe, da paródia ou do pastiche: ao contrário de partir do texto de outrem para um texto próprio, ele parte do próprio texto para o texto de outrem – e sem nenhuma relação com o fenômeno inconsciente da influência. Encontrar esse para-texto não é tarefa muito fácil: exige leitura e memória, mas ele encontrou muitos. E é inegável a associação dos poemas, através de identidade de temas, ou seja: de envolvimentos objetivos comuns, não necessariamante de posicionamentos.
            Estando entre os poetas retomados, mais que louvar sua ideia, me cabe apenas agradecer o seu gesto, que deu uma nova vida ao meu poema. Como a de todos os demais, presentes neste volume, que certamente terão a mesma atitude.






UM DIÁLOGO ENTRE A POESIA DE FERREIRA GULLAR E A DE LUIZ OTÁVIO OLIANI

DESPEDIDA
Ferreira Gullar

Eu deixarei o mundo com fúria.
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.

De fato
nesse momento
estarão em mim se arrebentando
                      raízes tão fundas
quanto estes céus brasileiros.

Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
             para que eu fique
             para que eu fique.

Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.

In: Barulhos, 6ª edição, RJ, José Olympio, 2010.



DESPEDIDA
Luiz Otávio Oliani

com fúria deixarei o mundo
aqui tudo será como antes
na secura das palavras
e no remorso vão

reminiscências do que fui
o desejo de ser alinhavo
certo de não levar mágoas
somente o que amei irá comigo

meu verso o passaporte
para um amanhã na eternidade

In: Fora de órbita, RJ, Editora da Palavra, 2007.



UM DIÁLOGO ENTRE A POESIA DE OLGA SAVARY E A DE LUIZ OTÁVIO OLIANI

COMUNHÃO
Olga Savary

a Carlos Felipe Moisés

Por que escrevo?
Porque sou
pouca e mínima
embora vária,
porque não me basto,
escrevo
para compensar
a falta,
porque não quero ser
só raiz e haste
e preciso do outro
para dar sombra
e fruto.

In: Repertório Selvagem: Obra Reunida, 12 livros de poesia - 1947-1998, Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional/ Multimais  / Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.




PARTILHA
Luiz Otávio Oliani

a mão estendida
abençoa o trigo

à procura do ponto
ágeis dedos
manipulam a massa
do mundo

mas a vida só faz sentido
quando se reparte o pão

In: Fora de órbita, RJ, Editora da Palavra, 2007.


UM DIÁLOGO ENTRE A POESIA DE PEDRO LYRA E A DE LUIZ OTÁVIO OLIANI

DO POETA
Pedro Lyra

O poeta
é aquele único homem
que preservou a essência da linguagem:
— crescendo embora, continuou
jogando com palavras.
Para eles, o poeta
é ainda aquela criança
que mastiga as ideias que não diz.

Para nós, A POESIA
NÃO UM BRINQUEDO: É UMA ARMA.
(Hora
de se reconhecer
maioridade do poeta.)

In: Decisão - poemas dialéticos, 2ª edição, com novos poemas e fortuna crítica, Tempo Brasileiro, RJ, 1985.


CONSTRUÇÃO                                        
       Luiz Otávio Oliani

a palavra é adaga
a cortar os pulsos

contra ela
milícias bombas
são inúteis

canhões não têm vez
sequer mordaças

a palavra não se cala
grita ejacula goza

a palavra é adaga
fere, mata
mas também é espera:
seu tempo é todo o tempo

In: A eternidade dos dias, RJ, Multifoco, 2012.


UM DIÁLOGO ENTRE A POESIA DE CARMEN SILVIA PRESOTTO E A DE LUIZ OTÁVIO OLIANI


POEMA
 Carmen Silvia Presotto

 ao poeta

Zigue zaguear de dedos
fibras deslizamentos
... olhares sobre feridas

escoam…

faz-se o verso,
tece-se a vida...
nossa estrada
e moradia

zigue zaguear de dedos
palavras pensamentos
parapeitos do ser

ecoam…


 

RECEITA
Luiz Otávio Oliani

na mesa do poeta
rabiscos

guardá-los
para quê?

o texto
a nascer
da memória

o poema
é libertação

In: Espiral, RJ, Editora da Palavra, 2009.





                                                   CONVIDADO MUSICAL
     

HOMENAGEM ________________________________________________________

                                                                CAZUZA




http://cazuza.com.br/


Cazuza, era a grande novidade
No início dos anos 80, um garoto dourado do sol de Ipanema surpreendeu o cenário musical brasileiro. À frente de uma banda de rock cheia de garra, começou a dar voz aos impulsos de uma juventude ávida de novidades. Ele, Cazuza, era a grande novidade.



O Brasil saía de um longo ciclo ditatorial e vivia um clima de democracia ainda incipiente, mas suficiente para liberar as energias contidas. Cazuza desempenhou um papel importante nesse processo. E quando as misérias e mazelas nacionais foram se desnudando, ele respondeu sem meias palavras.
A expressão de sua repulsa diante desse quadro só pode ser comparada à coragem com que lutou por sua vida, no enfrentamento público da Aids. Lições de indignação e de dignidade; de como levar a vida na arte e “ser artista no nosso convívio”.
No pouco que viveu, Cazuza deixou uma obra para ficar. Bebeu na fonte da tradição viva da MPB para recriar, num português atual e espontâneo, cheio de gírias, e num estilo marcadamente pessoal, a poesia típica do rock. Com justiça, foi chamado de o poeta da sua geração.

Agenor de Miranda Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza (Rio de Janeiro, 4 de abril de 1958 — Rio de Janeiro, 7 de julhode 1990) foi um cantor, compositor, poeta e escritor brasileiro. Ganhou fama como vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho. Sua parceria com Roberto Frejat foi criticamente aclamada. Dentre as composições famosas junto ao Barão Vermelhoestão "Todo Amor que Houver Nessa Vida", "Pro Dia Nascer Feliz", "Maior Abandonado", "Bete Balanço" e "Bilhetinho Azul".
Cazuza é considerado um dos maiores compositores da música brasileira. Dentre seus sucessos musicais em carreira solo, destacam-se "Exagerado", "Codinome Beija-Flor", "Ideologia", "Brasil", "Faz Parte Do Meu Show", "O Tempo Não Para" e "O Nosso Amor a Gente Inventa". Cazuza também ficou conhecido por ser rebelde, boêmio e polêmico, tendo declarado em entrevistas que era bissexual. Em 1989 declarou ser soropositivo (termo usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS - no sangue) e sucumbiu à doença em 1990, no Rio de Janeiro.
Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, cujo resultado colocou Cazuza na 34ª posição.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cazuza


                       BRASIL









Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha

Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer

Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada
Prá só dizer "sim, sim"

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Grande pátria
Desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
Não, não vou te trair

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Brasil!
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim

Confia em mim
Brasil!


EXAGERADO











Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade
Paixão cruel desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar
E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Prá mim é tudo ou nunca mais
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
E por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até nas coisas mais banais
Prá mim é tudo ou nunca mais
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Jogado aos teus pés
Com mil rosas roubadas
Exagerado
Eu adoro um amor inventado.






















PRÓXIMA EDIÇÃO:
         
 DIA 24 DE ABRIL, Um Brinde à Poesia Rio 16 
Divulgando Livro, Museu da República

Poetas Confirmados: Cairo Trindade, Igor Cotrin e Marcio Allemand.











ACONTECEU







O tempo voa para quem sonha. Pode parecer só uma expressão poética, mas reflete bem a 

história do Um Brinde à Poesia, lançado no dia 11 de junho de 1999, confirmando sua 

importância como evento divulgador e estimulador da poesia falada no cenário cultural de 

Niterói. A iniciativa foi da fotógrafa e jornalista Lucília Dowslley. 




O objetivo deste Movimento é divulgar a obra de artistas consagrados na literatura e na 
música - letrista, proporcionar espaço para novos autores e compositores,
 estimular e encorajar aqueles que nunca se apresentaram num sarau
 ou mesmo falaram num microfone em público e promover
 lançamento de livros ou cds, sem custo algum para o artista.


Com edições mensais Lucília faz a abertura apresentando poesias próprias com projeção de

 fotos e presta homenagem a nomes consagrados da literatura e da música. Logo no início 

acontece o Momento D'versos ou "Circulando Versos", quando o público é convidado a 

participar apresentando um poema. Três poetas e um músico convidado mostram seus 

trabalhos autorais. Há o momento do brinde em que o público é servido com vinho ou água e

 compõem uma poesia coletivamente celebrando a vida.O evento termina com foto de todos

 no palco e sorteio de brindes dos apoios.



O objetivo deste Movimento é divulgar a obra de nomes consagrados seja na literatura ou na

 música, proporcionar espaço para novos autores e compositores, estimular e encorajar 

aqueles que nunca se apresentaram num sarau ou mesmo

falaram num microfone em   público.



Muitas histórias foram traçadas.

 A gratificação é imensa. No dia 11 de junho o

 Um Brinde à Poesia completará 15 anos.


Participe! Vamos celebrar a paz e a liberdade de ser.

Lucília Dowslley









 “...segue escrevendo
e  sentindo tão fundo
a agonia do mar que se afasta e se achega
e toca na areia
em ondas sozinhas, constantes, vizinhas...”



Em “Cascata”, um dos poemas de destaque deste seu segundo livro, Cristina Lebre revela a agonia de escrever que pula sua alma e faz uma analogia com a agonia do mar que se afasta e se achega na praia.  Autora de “Olhos de Lince”, seu primeiro livro de poesias, Cristina agora se lança também no mundo dos contos e se prosas poéticas, além de apresentar, neste “Marca d’Água”, mais de 70 poemas inéditos de seu acervo que não para de crescer.

Formada em Jornalismo pela UFF, e pós-graduada em Letras, Cristina escreve desde criança, mostrando sempre uma sensibilidade aguda para o drama do ser humano e da natureza, enquanto toca os corações de muitos com seus versos livres e cheios de grande emoção.  “Marca d’Água” é uma viagem ao mundo lúdico, lírico e belo da essência desta especial representante da geração atual de poetas brasileiros.




“Marca d'Água" é o segundo livro da jornalista, revisora, apresentadora e escritora Cristina Lebre, trazendo agora, além de poemas, suas primeiras aventuras no mundo dos contos.  ]

Assim, enquanto "Olhos de Lince", seu primeiro livro, lançado em 2008, contem poemas escritos desde a adolescência apaixonada, mas também já preocupada com a condição humana e o desequilíbrio nas relações sociais e políticas, "Marca d'Água" foi produzido em um tempo curto, apenas dois anos, mas dois anos de grande convivência com o universo da poesia, frequentando os saraus do Rio, Niterói e São Gonçalo, e inserindo-se nesta “tribo” de fantásticos poetas que formam, atualmente, um grande movimento cultural e literário no Brasil.

"Marca d'Água" mescla agora a romântica adolescente com uma ousada escritora que externa seus sentimentos, pensamentos, sensações e devaneios de forma lírica, mas também, em muitos textos e poemas, revela de maneira surpreendente sua maturidade em constatações dramáticas sobre a condição humana, o amor e a morte, a crença inabalável em Deus e a homenagem à natureza em seu mosaico de matizes de cores.

“Marca d’Água” mostra ainda um lado muito mais impessoal da autora, que inventa personagens tanto na poesia quanto na prosa, como em "A moça da casa amarela" e " O andarilho" , (poemas), e nos contos e prosas poéticas " A mulher dos saltos", " Neno" e " O lago".

Em todo o livro, no entanto, a emoção está presente.  A “Marca d’Água” de Cristina Lebre é sua lágrima sempre corrente na face, seja diante da pureza da criança, seja no mirar do pólen de uma flor. E é dessa forma que a autora pretende tocar os corações sensíveis, ou os nem tanto, mas que, em um poema ou outro, identifiquem-se, em algum momento, com a transparência das emoções humanas, provocando no leitor um respirar fundo, lento e atingido em cheio pela leitura de seus versos e prosas. 

“Marca d’Água” já se encontra à venda pelo portal da editora, www.bliblioteca24horas.com







                                                                   MARCA D'ÁGUA


A imagem
por trás da face
é o que fica à margem
atrás da maquiagem.

Qual marca d'água
em folha de papel
qual reflexo em água
azul do mar
foto sem foco
o que há por trás
do olhar.


ANJO

Eu a olhei bem de perto...
e pude ver,
ela é um anjo...

Acossado pelas dores
do mundo,
um anjo vivente nesta
terra caída,
mas anjo...

A pele muito branca
macia...
O olhar apertado
de quem está obrigado
a viver por ora aqui,
um anjo cheio de luz
em missão de paz
e também de ser feliz.

E, no entanto,
um anjo também sofrido,
mágoas ainda retidas,
o olhar pedinte,
um semblante carente...
que repete, insistente:
“não esqueça, mãezinha
você é meio como Maria,
Deus se permitiu a cruz
para que você desse à luz
um anjo...


 CASCATA



Vem, poema

vem feito regra

e escorre na pedra

pra eu copiar.



Venham, palavras

certas, claras

venham correndo

pra no silêncio abafado

eu decifrar.



Vem, solidão

eu sou poeta

e quero de ti

consideração

pois preciso de ti

pra compor um refrão

sem interrupção.



Já tomei banho de lua

na praia deserta

e um amor de verão

me viu nua e liberta

da satisfação, da hipocrisia

minh'alma arredia.

Desçam da mente
ao papel, sem motivo aparente

mas desçam, porque sou poeta

e esta é a minha meta

contar o amor

minha mente é inquieta.



Quem faz poesia

não vive, sofre

não dorme, sonha

com a tela vazia

a encher-se de estrofes.




Quem faz poesia

percebe, procura e sente

abre chagas no peito

tem sangue de gente

que morre de amor

mas não cansa de amar.



Segue escrevendo

e sentindo tão fundo

a agonia do mar

que se afasta e se achega

e toca na areia

em ondas sozinhas

constantes, vizinhas.


Quem faz poesia
tem a alma vazia
pra vida comum
que cedo inicia;
mas cruza noites em claro,
a encher o caderno
dos versos mais raros.







Foi assim, como um sorriso mágico numa tarde dourada de outono, a segunda edição do Brinde à Poesia Niterói, no Solar do Jambeiro, com o lançamento 
de Marca D'água, de Cristina Lebre!
Quero agradecer a cada um que esteve presente e que participou das apresentações, ao músico parceiro Sergio Octaviano, a toda equipe do Solar do Jambeiro, ao Cais de Icaraí (Luiz Luiz Barros), a Fundação Arte Niterói, aos rapazes do som 
(Gilson e Fernando), aos Anjos e a Deus!
Parabéns querida Cristina Lebre, que fez uma apresentação emocionante, com acompanhamento musical de Sergio Octaviano! Marca D'água" é belíssimo! Eu recomendo! Já é sucesso! Agradeço também aos que leram poemas do livro homenageando a autora: Naldo Velho, Raquarella Campos, Maria Do Carmo Bomfim, Bruna Lebre que fez a sua estreia lendo poesia! Adorei!
Agradeço a presença de Simone Leite (eu estava com saudades, viu?), que levou um presente, na verdade um sinal dos anjos! De coração, obrigada, me emocionou muito! (postarei a foto no álbum). Não suma mais.
Tarde memorável para guardar no coração! E, quarta-feira temos Um Brinde à Poesia Nit. - Divulgando Livros, no MAC Niterói. Até lá.
Beijos no coração! Paz! Brilha Luz!
Lucília Dowslley




PRÓXIMA EDIÇÃO: DIA 09 DE ABRIL,  MAC NITERÓI









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